segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Palestra na quarta Gilberto Icle IV


Na última aula, o professor e pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, editor da Revista Brasileira de Estudos da Presença e integrante do grupo de teatro Usina do Trabalho do Ator (UTA), Gilberto Icle nos apresentou um pouco da sua pesquisa sobre processo criativo com o foco nos Estudos da Presença. A montagem de um espetáculo do UTA, foi o seu objeto de investigação. Praticamente todos os ensaios foram gravados em áudio-visual, o que se desdobrou em cerca de 300 páginas de transcrição. É importante frisar que esta pesquisa contou com uma equipe de apoio.
Durante as observações de todo esse material, ele percebeu palavras que se repetiam e eram usadas pelos atores para designar algo da lógica interna dos ensaios. Era como se eles elencassem palavras que funcionavam muito bem naquele contexto e que fora dali, entre outras pessoas, não comunicariam as mesmas coisas. Ou seja, essas palavras não representavam um conceito, mas também não se referiam somente aos seus significados usuais e/ou cotidianos. Dessa forma elas ocupariam um entre-lugar. Um exemplo disso é a palavra economia, utilizada  para indicar como uma determinada cena poderia ser reduzida em seus movimentos e palavras com o objetivo de esculpir sua potência expressiva. A esse tipo de comunicação o pesquisador chamou Noção.
De acordo com Gilberto Icle, o conceito operacional de Noção, criado por ele, teria características específicas, sendo elas:
- Noção como entre-lugar;
- Noções precisam ser experiênciadas;
- Noções são efêmeras;
- Entre o privado e o público;
- Para além da linguagem;
- As noções são operacionais e temporárias;
- As noções criam vocabulário;
- As noções se multiplicam.

 Das presenças de todos os artistas cênicos envolvidos na montagem, das suas relações durante os ensaios surgem as Noções. Aqui, o interesse do pesquisador, se debruça sobre uma presença anterior ao momento da apresentação da peça: a presença nos ensaios.
Sobre a mudança da antiga nomenclatura Estudo da Presença, para a atual Estudos da Presença ele cita a influência da abordagem da Etnocenologia, dos Estudos Foucaltianos, da Genética Teatral e de Hans Ulrich Gumbrech. Todas essas também presentes no escopo teórico de sua pesquisa.
 A Etnocenologia, segundo Icle, não é uma metodologia e sim aspira a uma disciplina. Ela critica por exemplo, o modelo semiótico de analise de Patrice Pavis, que é etnocentrado em uma visão francesa de teatro. A Etnocenologia é um exercício de alteridade, de se respeitar a lógica interna do que se analisa.
Os Estudos Foucaultianos, me parece ir ao encontro e/ou complementar a perspectiva da etnocenologia  quando nos propõe que problematizar seria "suspender alguma coisa que eu ou algum campo de conhecimento tem como já assentado".¹ A grande questão para Foucault, não é se alguma coisa(o discurso), é verdade ou não e sim como ela se tornou uma verdade.
Sobre a Genética Teatral ele citou uma edição da Revista Brasileira de Estudos da Presença totalmente dedicada a esse assunto. Já sobre Hans Ulrich Gumbrecht, disse que é um autor que publica incessantemente e está em seus textos uma crítica da interpretação, o que faz parte do campo teórico da não hermenêutica.
¹  Texto exposto no mini curso "Introdução ao pensamento de Michel Foucault: o discurso" com o Prof. Gilberto Icle.


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