domingo, 25 de outubro de 2015

palestra na quarta - Gilberto Icle III

Não conhecia os estudos de Gilberto Icle e para mim foi um privilégio conhecer a sua abordagem de pesquisa. 

O professor apresentou, de partida, seu referencial teórico como pesquisador nas artes cênicas,  fruto de anos de pesquisa e diálogo entre Brasil e França, partindo de campos de estudo da etnocenologia, da genética teatral e filosofia, especificamente Foucault. A partir desse terreno teórico Icle conduz suas pesquisa dentro dos chamados "Estudos da Presença", campo de estudos que surgiu a partir do conceito de presença do ator, inaugurado pelo teatrólogo italiano Eugenio Barba, que teve muita repercussão no Brasil desde suas constantes vindas ao Brasil desde a década de 80. 

Este conceito de presença (e aqui nem sei se posso utilizar a palavra conceito, dentro do que nos apresentou Icle) mudou muito ao longo dos últimos 30 anos, e tem sido constante objeto de estudo. Como ferramenta para estudo da presença, Icle propõe a ideia de "NOÇÕES". Segundo ele, noções são ideias operacionais compartilhadas por um grupo, temporárias, que servem para o compartilhamento de algo que é percebido pelo grupo dentro de um processo criativo.

Para propor esse termo, "noções", Icle o investiga dentro de um processo criativo no qual ele atuou como diretor, registrou de forma sistemática todos os ensaios e transcreveu as imagens e diálogos posteriormente. Dentro dessa pesquisa ele lança a noção ECONOMIA, que apareceu ao longo do processo criativo estudado como sendo o ato de selecionar o que há de mais significativo e condensado de significado em um dado material criativo. Essa noção foi compartilhada pelo grupo ao longo do processo e nomeada por Icle no processo posterior de pesquisa.

Pessoalmente eu achei a "Noção"uma ferramenta muito útil para abordar a criação em sua manifestação menos teórica, menos racional. Existe algo que é compartilhado em um processo criativo e que muitas vezes pode escapar a um observador mais atento, pois é não-dito, não racionalizado. Essa ferramenta pode ser muito útil no caso de pesquisa baseada em processo criativo.

A partir da sua apresentação de pesquisa, algo que me chamou a atenção foi a possibilidade da construção da metodologia ao longo do processo de pesquisa. Essa possibilidade casa com a minha perspectiva de criação artística, na qual a criação deve estar permeada do processo artístico. Ora, se é assim com a criação, porque não seria assim com a pesquisa sobre a criação? Entender a pesquisa em artes a partir da sua própria lógica e das suas próprias ferramentas me parece ser um ótimo caminho para lidar com esse objeto tão complexo quanto a criação artística.

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