sexta-feira, 23 de outubro de 2015

Música e processos criativos.

Bem, estou escrevendo esta postagem a partir de outra, sobre a música no processo criativo no processo de montagem de Tombado.

Uma coisa a considerar é a relevância do uso de sons em projetos criativos. Há diversos modos de usa utilização. Algumas vezes o uso do som é meramente decorrencial: as pessoas fazem sons em cena e isso não é levado muito em consideração. Há uma passagem bem interessante de John Cage em seu livro Silêncio :
1-  John Cage and the omnipresence of the sounds
“There is no such thing as an empty space or an empty time. There is always something to see, something to ear. In fact, try as we may to make a silence, we cannot. For certain engineering purposes, it is desirable to have as silent a situation as possible. Such a room is called an anechoic chamber, its six walls made of special material, a room without echoes. I entered one at Harvard University several years ago and heard two sounds, one high and one low. When I described them to the engineer in charge, he informed me that the high one was my nervous system in operation, the low one my blood in circulation. Until I die there will be sounds. And they will continue following my death. One need not fear about the future of music.” John Cage. Silence, p.8.

Não há silêncio, sempre há algum som. Mesmo que não sejamos capazes de o ouvir, ou prestar atenção nele. 
Então temos
1- sempre há som, mas diversos meios de se explorar a sonoridade de um espetáculo
2- o meio bem comum é ter canções em cena. Elas acabam por estruturar o espetáculo. Temos um espetáculo que alterna cancões e partes não cantadas.
3- temo espetáculos que exploram relações entre sons e movimentos. Muitas vezes a questão é entre a sincronização e dessincronização entre som e movimento.
4- há espetáculos que exploram ideias ou formas musicais como fuga, forma sonata, etc como fatores de estruturação de espetáculo. Podem até não ter acontecimentos sonoros mais enfatizados, mas se valem das formas que a tradição musical explorou.
5- temos espetáculos que se valem de explorar sensações sinestésicas, com o uso de parâmetros psicoacústicos do som (tempo, intensidade, frequencia,etc) tanto em eventos sonoros quanto em não sonoros.
6- temos espetáculos que se inserem em tradições de espetáculos dramático-musicais como óperas, revistas, etc.

De qualquer forma, para quem observa, o importante é ver o quão integrada está a questão da sonoridade com o processo criativo. Muitas vezes o uso do som é bem localizado, restrito às cenas cantadas. Isso não é questão de qualidade, mas de especificidade.  E, se bem compreendida a produtividade dos sons no processo criativos, as outras questões são melhor compreendidas - interpretação, caracterização, etc.

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