segunda-feira, 26 de outubro de 2015

Gilberto Icle: Foucault e as possibilidades teóricas para análise do processo criativo

Um café é só um café: Icle nos apresenta Foucault


Para complementar o que os colegas já disseram sobre a palestra de Gilberto Icle, trago minhas impressões sobre o curso que ele ministrou no nosso PPG-CEN. O professor da UFRGS sintetizou em dois encontros a perspectiva de Michael Foucault e como ela pode ser aplicada nas pesquisas sobre o processo criativo.

O pensamento de Foucault apresenta um grau de complexidade difícil de digerir em poucas horas, especialmente porque parte de premissas que romperam com tradições filosóficas mais próximas do que já conheço. Ainda assim, nos dois encontros pude apreender conceitos como o discurso, campo discursivo, enunciado e sujeito - todos  sob a ótica do pensador francês considerado pós-estruturalista para muitos, mas que apresenta elementos em sua obra que poderiam ser relacionados a uma abordagem estruturalista - Foucault apresenta contradições, como todos os pensadores. 

Mas segundo Icle, ir tão à fundo na gênese do pensamento de Foucault, suas contradições e limites teóricos não deveria ser uma questão para quem se propõe a realizar uma dissertação acadêmica em Artes  - tal problemática requer um vasto conhecimento em filosofia e talvez acabe trazendo uma discussão maior, que foge do escopo desta área de pesquisa. O que importa mesmo é termos condições de saber se  seria pertinente aplicar a perspectiva "foucaultiana" como parte de nosso exercício de análise e articulação teórica.

O professor Icle foi além da apresentação de Michael Foucault e compartilhou com a turma suas percepções sobre as possibilidades e limites  de diálogo entre  sua obra e a de outros teóricos como Mikhail Bakhtin, John Langshaw Austin, Baruch Espinoza e Jean-Paul Sartre.

Pessoalmente, conhecer melhor a obra de Foucault me instigou a querer me aprofundar em seus escritos, mas esse contato me trouxe sensações conflitantes. Por um lado, pareceu-me interessante a abordagem de problemas de pesquisa a partir da noção de sujeito constituído por discursos anônimos, e que pode apenas se "assujeitar" a tais discursos, deslocando-se entre um e outro, reagindo e fazendo parte deles. No entanto, pelo que pude entender, Foucault não considera o individuo ou sua singularidade, e desconsidera a transcendência dos fenômenos, além de negar protagonismos na construção de discursos ou uma força central pela qual discursos são construídos. 

Ainda é cedo para dizer se compreendi por completo a proposta de Foucault e se ela seria adequada à minha pesquisa, mas por enquanto fico com a impressão de que vou continuar a achar que um café não é só um café.

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