Na última aula, o professor e
pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul, editor da Revista Brasileira
de Estudos da Presença e integrante do grupo de teatro Usina do Trabalho do
Ator (UTA), Gilberto Icle nos apresentou um pouco da sua pesquisa sobre processo
criativo com o foco nos Estudos da Presença. A montagem de um espetáculo do UTA,
foi o seu objeto de investigação. Praticamente todos os ensaios foram gravados
em áudio-visual, o que se desdobrou em cerca de 300 páginas de transcrição. É
importante frisar que esta pesquisa contou com uma equipe de apoio.
Durante as observações de todo esse
material, ele percebeu palavras que se repetiam e eram usadas pelos atores para
designar algo da lógica interna dos ensaios. Era como se eles elencassem
palavras que funcionavam muito bem naquele contexto e que fora dali, entre
outras pessoas, não comunicariam as mesmas coisas. Ou seja, essas palavras não
representavam um conceito, mas também não se referiam somente aos seus
significados usuais e/ou cotidianos. Dessa forma elas ocupariam um entre-lugar.
Um exemplo disso é a palavra economia,
utilizada para indicar como uma
determinada cena poderia ser reduzida em seus movimentos e palavras com o
objetivo de esculpir sua potência expressiva. A esse tipo de comunicação o
pesquisador chamou Noção.
De acordo com Gilberto Icle, o
conceito operacional de Noção, criado por ele, teria características
específicas, sendo elas:
- Noção como entre-lugar;
- Noções precisam ser experiênciadas;
- Noções são efêmeras;
- Entre o privado e o público;
- Para além da linguagem;
- As noções são operacionais e
temporárias;
- As noções criam vocabulário;
- As noções se multiplicam.
Das presenças de todos os artistas cênicos
envolvidos na montagem, das suas relações durante os ensaios surgem as Noções.
Aqui, o interesse do pesquisador, se debruça sobre uma presença anterior ao
momento da apresentação da peça: a presença nos ensaios.
Sobre a mudança da antiga nomenclatura
Estudo da Presença, para a atual Estudos da Presença ele cita a influência da
abordagem da Etnocenologia, dos Estudos Foucaltianos, da Genética Teatral e de
Hans Ulrich Gumbrech. Todas essas também presentes no escopo teórico de sua
pesquisa.
A Etnocenologia, segundo Icle, não é uma
metodologia e sim aspira a uma disciplina. Ela critica por exemplo, o modelo
semiótico de analise de Patrice Pavis, que é etnocentrado em uma visão francesa
de teatro. A Etnocenologia é um exercício de alteridade, de se respeitar a
lógica interna do que se analisa.
Os Estudos Foucaultianos, me parece
ir ao encontro e/ou complementar a perspectiva da etnocenologia quando nos propõe que problematizar seria
"suspender alguma coisa que eu ou algum campo de conhecimento tem como já
assentado".¹ A grande questão para Foucault, não é se alguma coisa(o
discurso), é verdade ou não e sim como ela se tornou uma verdade.
Sobre a Genética Teatral ele citou
uma edição da Revista Brasileira de Estudos da Presença totalmente dedicada a
esse assunto. Já sobre Hans Ulrich Gumbrecht, disse que é um autor que publica
incessantemente e está em seus textos uma crítica da interpretação, o que faz
parte do campo teórico da não hermenêutica.
¹ Texto exposto no mini curso "Introdução
ao pensamento de Michel Foucault: o discurso" com o Prof. Gilberto Icle.